domingo, 13 de março de 2016

As Maravilhas do Mundo de Gelo e Fogo

Eastwatch by the Sea por TedNasmith

Muito já se falou sobre as várias semelhanças entre os eventos da série Game of Thrones com fatos históricos verídicos - não poderia deixar de ser, afinal, o próprio Martin é um entusiasta de história confesso. No entanto, por mais minuciosas que sejam as análises dessa obra que tanto encantou o público, um fato a inda permanece estranhamente ignorado: a semelhança, por vezes gritante, entre os monumentos da ficção e as Maravilhas do Mundo Antigo


A Grande Pirâmide do Egito



A Grande Pirâmide do Egito - foto retirada de: http://revistagalileu.globo.com/

Talvez um dos mais óbvios - e, pessoalmente, o meu favorito - seja a Grande Pirâmide de Meereen. Seu equivalente no mundo real tem quase o mesmo nome - estamos falando da Grande Pirâmide de Gizé, é claro. Por séculos, a maior construção já erguida pelo homem, a estrutura mais famosa da Terra de Kemet - como o Egito era chamado pelos antigos - só foi superada em uma época relativamente recente, pelo Empire State Building. Como tudo na cidade ghiscari de Meereen, a famosa estrutura já conheceu dias melhores. E como! Nos dias de sua glória, era revestida por pedra calcária polida, emitindo um brilho tão intenso à luz do sol, que podia ser vislumbrado a centenas de quilômetros dali, a partir das montanhas de Israel.

O povo que construiu esta magnífica maravilha também era, em certa medida semelhante aos ghiscari. De saias plissadas de seda e cabelos lisos passados a ferro, os egípcios têm mais em comum com aquele povo fictício além do hábito de fazer escravos. Ambos partilham da crença politeísta, usavam maquiagem para proteger os olhos da poeira do deserto e foram derrubados por um império muito mais poderoso. Mas as semelhanças não se estendem por muito. Ao contrário dos ostentosos complexos funerários do Antigo Egito, as pirâmides da cidade-estado das Crônicas de Gelo e Fogo não eram destinadas a acomodar os corpos dos líderes da cidade em seu descanso eterno - pelo contrário, eram suas moradas em vida. De fato, quando vemos os grandes monumentos do passado, eles parecem mais moradas dignas de um faraó vivo, do que de um medonho cadáver envolto em ataduras.


Colosso de Rodes

Colosso de Rodes por autor desconhecido

À exemplo da pirâmide ghiscari, o Titã de Braavos também foi melhor aproveitado do que seu equivalente histórico - pois hoje em dia, só o que resta dele, são histórias - falamos, é claro, do outrora orgulhoso Colosso de Rhodes. Erguido pelos gregos sobre o porto da esquecida polis de Rhodes, esse triunfo da engenharia do passado serviu, à semelhança do Titã, de farol para os viajantes - até ser derrubado de suas bases por um terremoto e desaparecer no mar. Sua versão braavosi, porém, não é tão vulnerável. Com suas bases escavadas diretamente das montanhas, essa estátua colossal dá a impressão de que não planeja cair tão cedo. E como se não bastasse ser muito maior do que o monumento que o inspirou, o titã também é uma arma de guerra - salpicado de seteiras e alçapões, o Titã de Braavos constitui uma grande ameaça para invasores. Em tempos de guerra, as seteiras jorram flechas e os alçapões vomitam piche ardente sobre os atacantes.


Os Jardins Suspensos da Babiblônia



Alguém decifra o nome desse autor pra mim?

Não menos perigosos são os domínios de Jardim de Cima e não menos famoso é o monumento que o inspirou, uma vez chegou até a ser mencionado na Bíblia. Já descobriu qual é? O próprio nome já entrega. Jardim de Cima foi possivelmente inspirado nos Jardins Suspensos da Babilônia, antigo palácio do Império Babilônico, conhecido por seu esplendor e beleza e, é claro, por seus jardins elevados. Assim como seu equivalente na vida real, Jardim de Cima possui jardins esplendorosos - embora não suspensos - e foi construído para ser belo, mais um palácio (um retiro de férias) do que uma fortaleza. Mas nem tão inofensivo assim, pois a sede da Casa Tyrell possui muralhas tanto de pedra, quando de madeira - os jardins que cercam o castelo formam um labirinto podado especialmente para confundir invasores e conduzi-los à sua morte - muito embora simplesmente queimar toda a plantação seja sempre uma opção. A sede de governo da Campina também não é menos imaculada do que os jardins da infame Babilônia - o castelo foi erguido por ninguém menos do que o autointitulado deus, Garth Mão-Verde, o fundador da Casa Gardener, considerado pela Fé dos Sete como um falso deus e o fundador de um culto profano.


O Farol de Alexandria

By Prof. Hermann Thiersch (1874–1939), Public Domain, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=42458833


Uma das menos conhecidas Maravilhas do Mundo Antigo, o Farol de Alexandria também possui ligações com As Crônicas de Fogo - seu equivalente da ficção é o imenso farol-fortaleza de Torralta, a sede da Casa Hightower de Vilavelha. Erguendo-se sobre uma base quadrada, a torre octogonal de Martin é exatamente igual ao antigo farol construído por Ptolomeu II, exceto pela escala - o Farol de Alexandria possuía algo entre 115 e 150 metros, enquanto que a Torralta é mais alta que a Muralha. Além disso, a tal base quadrada dos livros é uma fortaleza valiriana impenetrável, fazendo da sede dos Hightower, um forte formidável.


A Biblioteca de Alexandria

Por O. Von Corven - Tolzmann, Don Heinrich, Alfred Hessel and Reuben Peiss. The Memory of Mankind. New Castle, DE: Oak Knoll Press, 2001, Domínio público, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2307486

Não se pode falar da Torralta sem falar da Cidadela, a imensa biblioteca-universidade erigida pelos Hightower onde os meistres são treinados em seu ofício. E, adivinhe só, ela também tem um equivalente histórico. Embora nunca tenha sido citada como uma das 7 Maravilhas do Mundo Antigo, a biblioteca de Alexandria, foi o maior centro de conhecimento do Mundo Antigo, tal como a Cidadela é para Westeros. Com um acervo impressionante, a biblioteca que leva o nome de um dos maiores conquistadores do passado existiu até a idade média, quando foi obliterada por um incêndio.

Enquanto existiu, a biblioteca seguiu o lema "adquirir um exemplar de cada livro escrito na Terra" - a biblioteca chegou a abrigar 700 mil rolos de pergaminho, um verdadeiro santuário do conhecimento, muito parecido com a Cidadela. Esperemos que a segunda não tenha o mesmo destino da primeira.


O Coliseu de Roma

Por Diliff - Obra do próprio, CC BY-SA 2.5, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=2067974


Como vimos, nem só de maravilhas do mundo antigo, vivem as Crônicas. E aí está mais um exemplo para comprovar essa afirmação - inspirada em uma das 7 Maravilhas da Idade Média, a Grande Arena de Daznak lembra o Coliseu de Roma, um gigantesco estádio onde milhares de pessoas iam para assistir às lutas de gladiadores até a morte.Tanto na ficção, quanto na história real, esses gladiadores eram invariavelmente escravos, forçados a lutar até o último homem. O prêmio final era a vida e a liberdade. Mas por que promover tamanho derramamento de sangue? Os ghiscari, com seu apetite por sangue, dificilmente precisariam de um incentivo para provocar tamanha carnificina, mas o fato é que, tanto no caso dos ghiscari, como no dos romanos, havia o incentivo do poder e do orgulho - assistir ao extermínio de vidas humanas num jogo controlado pelos poderosos era um lembrete nada sutil do poder do império.


A Grande Muralha da China e o Muro de Adriano



Por Severin.stalder, CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=26549385


Outra estrutura que viu muito sangue foi a Muralha. Milhares de selvagens já quebraram suas cabeças contra essa estrutura colossal de gelo sólido, construída para deter no rescaldo da Batalha da Alvorada para deter o avanço do Exército dos Mortos. Falando assim, parece impossível que tal obra possa ter uma única sugestão de realidade quando, na verdade, há duas possíveis inspirações para essa construção: uma é uma das 7 Maravilhas do Mundo Moderno, a Grande Muralha da China, com toda a sua enorme extensão. 


Por Nilfanion - Ordnance Survey OpenData.Administrative borders and coastline data from Boundary-Line product.Rivers, lakes and urban area data from Meridian 2 product.Hadrian's Wall from Strategi product., CC BY-SA 3.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=11567089


Outra, menos famosa, é o Muro de Adriano, erguido pelo imperador romano Adriano para impedir o avanço das tribos bárbaras sobre a Inglaterra, ele constituía a separação entre o mundo civilizado e o não-civilizado. Tempos depois da queda do Império Romano, o muro não tão formidável quanto seu equivalente da ficção - o muro de Adriano possuía apenas 4 metros de altura, enquanto que a Muralha tem 200 - foi cercado por superstições. Muitos acreditavam que sua verdadeira finalidade era separar o sobrenatural do natural. Soa familiar? Coincidência, não é!